As alterações de fígado na gravidez são uma área de grande interesse e importância na medicina, uma vez que o fígado desempenha um papel crucial no metabolismo e na desintoxicação do organismo.

A gravidez é um período de transformações significativas no corpo da mulher, incluindo adaptações fisiológicas que podem afetar o fígado.

Este artigo visa fornecer uma visão abrangente das principais alterações hepáticas (do fígado) que ocorrem durante a gestação, com base em informações acadêmicas importantes.

figado na gravidez

Alterações Fisiológicas Normais do Fígado na Gravidez

Durante a gravidez, o fígado passa por várias modificações normais que não necessariamente indicam patologia. Entre as principais alterações fisiológicas, destacamos:

Aumento do Volume Sanguíneo

O volume sanguíneo materno aumenta em até 50% para suprir as necessidades do feto e da placenta. Esse aumento pode sobrecarregar o fígado, que precisa metabolizar e desintoxicar maiores quantidades de sangue. Essa sobrecarga pode levar a alterações temporárias nas funções hepáticas, sem necessariamente indicar uma doença subjacente.

Alterações nos Níveis de Enzimas Hepáticas

É comum observar variações nas enzimas hepáticas, como a alanina aminotransferase (ALT) e a aspartato aminotransferase (AST), que podem aumentar ligeiramente sem indicar doença hepática. Outros marcadores, como a fosfatase alcalina, podem aumentar devido à produção pela placenta. Essas variações são geralmente benignas, mas devem ser monitoradas para garantir que não estejam associadas a condições mais graves.

Aumento da Síntese de Proteínas

Durante a gestação, há um aumento na produção de proteínas plasmáticas, incluindo albumina e globulinas, essenciais para o crescimento fetal e manutenção do equilíbrio de fluidos. A produção aumentada de proteínas do fígado na gravidez ajuda a suportar a expansão do volume sanguíneo e a assegurar o transporte adequado de nutrientes e hormônios entre a mãe e o feto.

Alterações na Metabolização de Medicamentos

A gravidez pode alterar a forma como o fígado metaboliza medicamentos. Enzimas hepáticas responsáveis pela biotransformação de fármacos podem ter sua atividade modificada, exigindo ajustes nas doses de medicamentos para garantir eficácia e segurança tanto para a mãe quanto para o feto.

Modificações na Secreção Biliar

A produção e a excreção da bile podem ser afetadas pela gravidez. O fluxo biliar pode diminuir, levando ao acúmulo de ácidos biliares no sangue. Isso é particularmente relevante em condições como a colestase intra-hepática da gravidez, onde a interrupção do fluxo biliar pode causar sintomas significativos.

figado e gravidez

Patologias Específicas do Fígado na Gravidez

Algumas condições hepáticas são específicas da gravidez e podem ter implicações significativas para a mãe e o feto. As principais patologias incluem:

1. Colestase Intra-hepática da Gravidez (CIG)

A colestase intra-hepática da gravidez é uma condição caracterizada pela redução ou interrupção do fluxo biliar, resultando em acúmulo de ácidos biliares no sangue. Os principais sintomas são prurido intenso, especialmente nas mãos e pés, e icterícia. A CIG pode aumentar o risco de parto prematuro, sofrimento fetal e morte intrauterina.

Tratamento e Prognóstico: O tratamento inclui o uso de ácido ursodesoxicólico para reduzir os níveis de ácidos biliares e monitoramento fetal rigoroso. Em casos graves, pode ser necessário antecipar o parto para minimizar os riscos para o feto. O prognóstico é geralmente favorável se a condição for gerenciada adequadamente, mas requer acompanhamento próximo por parte da equipe médica.

2. Esteatose Hepática Aguda da Gravidez (EHAG)

A esteatose hepática aguda da gravidez é uma condição rara, mas grave, que se caracteriza pelo acúmulo de gordura nos hepatócitos, levando à insuficiência hepática. Os sintomas incluem náuseas, vômitos, dor abdominal, icterícia e, em casos graves, encefalopatia hepática.

Diagnóstico e Tratamento: O diagnóstico é confirmado por meio de biópsia hepática, que revela microvesículas de gordura no fígado. O tratamento envolve a interrupção imediata da gravidez para salvar a vida da mãe e do feto, seguido de cuidados intensivos. A recuperação pós-parto pode ser completa, mas a condição requer um diagnóstico rápido e tratamento agressivo para evitar complicações fatais.

3. Síndrome de HELLP

A síndrome de HELLP é uma variante grave da pré-eclâmpsia, caracterizada por hemólise, elevação das enzimas hepáticas e baixa contagem de plaquetas. Os sintomas incluem dor no quadrante superior direito, náuseas, vômitos, hipertensão e proteinúria.

Tratamento: O tratamento principal é a estabilização da mãe e o parto imediato, pois a condição pode progredir rapidamente para insuficiência hepática, descolamento prematuro de placenta e outras complicações graves. A monitorização pós-parto é crucial, pois as complicações podem persistir ou surgir após o parto.

4. Hiperêmese Gravídica

A hiperêmese gravídica é uma condição caracterizada por vômitos severos e persistentes que podem levar à desidratação, desequilíbrio eletrolítico e perda de peso significativa. Embora não seja uma doença causada diretamente pela gestação, a hiperêmese pode causar elevação das enzimas hepáticas e cetonúria.

Tratamento: O tratamento inclui a reidratação, reposição de eletrólitos e, em casos graves, a nutrição parenteral. Medicamentos antieméticos podem ser usados para controlar os vômitos. A condição geralmente melhora com o avanço da gestação.

Doenças Hepáticas Preexistentes e Gravidez

Mulheres com doenças hepáticas preexistentes, como hepatite viral crônica ou cirrose, podem enfrentar desafios adicionais durante a gravidez. A gestão dessas condições requer uma abordagem multidisciplinar para minimizar riscos para a mãe e o feto.

Hepatite Viral Crônica

Mulheres com hepatite B ou C crônica precisam de monitoramento cuidadoso do fígado na gravidez e, em alguns casos, tratamento antiviral para prevenir a transmissão vertical ao feto. O parto cesáreo pode ser recomendado para reduzir o risco de transmissão.

Gestão na Gravidez:

  • Hepatite B: Mulheres com hepatite B devem ser monitoradas regularmente. O uso de antivirais, como o tenofovir, pode ser considerado para reduzir a carga viral e o risco de transmissão perinatal.
  • Hepatite C: O tratamento antiviral durante a gravidez ainda é controverso, mas é crucial monitorar a carga viral e a função hepática. O acompanhamento pós-natal é essencial para avaliar a necessidade de tratamento antiviral no bebê.

Cirrose Hepática

A cirrose é uma condição que pode complicar significativamente a gravidez devido à hipertensão portal e insuficiência hepática. A gestão inclui controle rigoroso da pressão portal, monitoramento frequente da função hepática e avaliação do risco de complicações como varizes esofágicas.

Gestão na Gravidez:

  • Monitoramento Freqüente: Avaliações regulares para detectar descompensações hepáticas, ascite e hipertensão portal.
  • Intervenções Terapêuticas: Beta-bloqueadores podem ser usados para reduzir a pressão portal. A endoscopia para ligadura de varizes pode ser necessária em casos de varizes esofágicas.

Hepatite Autoimune

A hepatite autoimune pode ser controlada durante a gravidez com o uso de imunossupressores, como a azatioprina, que são relativamente seguros. A monitorização cuidadosa é necessária para ajustar as doses de medicamentos e prevenir surtos.

Gestão na Gravidez:

  • Monitoramento Regular: Inclui testes de função hepática e ajuste de imunossupressores conforme necessário.
  • Cuidados Pós-parto: A vigilância continua após o parto é crucial para detectar e tratar qualquer exacerbação da doença.

Diagnóstico das Alterações de Fígado na Gravidez

O diagnóstico das alterações hepáticas na gravidez envolve uma combinação de história clínica, exames laboratoriais e, quando necessário, exames de imagem e biópsia hepática.

História Clínica e Exame Físico

A história clínica deve incluir informações sobre sintomas, histórico médico e familiar de doenças hepáticas, e exposições a hepatotoxinas. O exame físico pode revelar sinais de icterícia, hepatoesplenomegalia e ascite.

Exames Laboratoriais

Os exames laboratoriais incluem a dosagem de enzimas hepáticas, bilirrubinas, ácidos biliares, e testes de coagulação. Anormalidades nesses testes podem indicar a necessidade de investigação adicional. Outros testes podem incluir a dosagem de albumina, globulinas e marcadores específicos de doenças.

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