Dr Diego Baima

Doença celíaca: o que é?

A doença celíaca é conhecida como “a doença do glúten”.

Na doença celíaca, existe uma resposta inadequada do organismo a um grupo de proteínas presentes em certos tipos de alimentos, como o trigo, o centeio, a cevada e a aveia. Elas funcionam como “gatilho” que provoca inflamação intestinal. 

O principal responsável nesse processo de inflamação é o Glúten. Aqui vamos explicar como é feito o dignóstico e o tratamento.

O que acontece se um celíaco comer glúten?

Confira os principais sintomas que podem surgir:

  • dor abdominal
  • empachamento depois de comer
  • anemia
  • distensão abdominal e sensação de gases
  • diarreia pode acontecer

Quando se inicia a dieta livre de glúten, costuma haver melhora.

ATENÇÃO: No passado, achava-se que esta doença era uma condição própria da infância. Porém, depois começou a se fazer diagnósticos cada vez mais em adultos.

Os sintomas também têm mudado: a diarreia tem se tornado menos frequente e acontece até de o diagnóstico ocorrer em pessoas com sobrepeso ou obesidade. Os adultos podem ter a doença silenciosa por algum tempo.

O diagnóstico pode ser feitos em adultos com baixa estatura e sinais prévios na infância, mas também pode acontecer de os sintomas surgirem apenas na vida adulta. Também pode ser diagnosticada mais tarde, com cerca de 25% dos diagnósticos acontecendo em pessoas com mais de 60 anos.

Sintomas digestivos:

As manifestações variam bastate entra cada paciente. Os sintomas derivam da má-absorção de nutrientes. Às vezes, o único sintomas pode ser apenas uma fraqueza.

Outras vezes, pode ocorrer diarreia, esteatorreia (gordura nas fezes), excesso de gases, distensão abdominal, perda de peso. A diarreia pode ser ocasional, em vez de contínua. É a comum a diarreia noturna, de manhã cedo e após as refeições. Porém, pode não haver diarreia em muitos casos.

Sintomas extraintestinais (fora do intestino):

Com o avançar da idade, os pacientes tendem a reclamar menos de sintomas intestinais e falar mais dos extra-intestinais (sintomas fora do intestino). Eles são consequência principalmente da má-absorção de nutrientes, podendo afetar qualquer órgão do corpo. Os sintomas fora do intestino podem ser mais desconfortáveis para o paciente, como por exemplo:

  • anemia
  • osteopenia
  • sintomas neurológicos
  • alterações menstruais, etc.  

Anemia: pode ocorrer por má-absorção de ferro, folato e vitamina B12. Geralmente, a anemia é leve. Se houver anemia muito intensa, é preciso pensar em outras doenças associadas, como o linfoma.

Os exames do fígado TGO e TGP podem estar elevadas e costumam normalizar com dieta sem glúten. 

Osteopenia (perda de massa óssea): é a complicação mais comum na doença celíaca. Sua prevalência aumenta com a idade. Mais de 70% dos celíacos não-tratados têm osteopenia. E cerca de 25% tem osteoporose. Isso se dá pela má-absorção de cálcio, vitamina D e pela ligação do cálcio e magnésio a ácidos graxos não absorvidos.  

O risco de fraturas na osteopenia ainda é incerto. É preciso sempre ficar atento à perda de massa óssea em condições que envolvem má-absorção crônica.

Sintomas Neurológicos: as lesões do Sistema Nervoso Central e de nervos periféricos é ainda apouco compreendida. Podem ocorrer Ataxia e Neuropatia periférica.

Problemas Ginecológicos e de Infertilidade: são comuns na doença celíaca. A amenorréia (falta de menstruação) ocorre em 1/3 das mulheres em idade fértil e a menarca (primeira menstruação) geralmente é atrasada nas pacientes não tratadas. Em pessoas não-tratadas, a infertilidade é comum e, geralmente, a gravidez ocorre rapidamente quando se inicia a dieta livre de glúten. 

Atenção! Doença celíaca silenciosa (sem sintomas) tem sido diagnosticada em mulheres com história de abortos recorrentes, retardo de crescimento fetal e complicações na gravidez. Nessas situações, é necessários avaliar a presença da doença.

No homem, pode ocorrer infertilidade devido à mal-absorção de nutrientes e por alterações no eixo hipotalâmico-pituitário, que regula alguns hormônios: também se resolvem com um dieta livre de glúten.

O que o médico pode perceber no exame físico de quem tem doença celíaca?

Pessoas com doença celíaca moderada costumam ter exame físico completamente normal.

Naquelas que têm doença severa, podem aparecer alguns sinais: retardo de crescimento, que pode ser corrigido com a dieta, costumando haver um estirão compensatório após retirar o glúten. Pessoas com doença celíaca são, em média, 7 cm mais baixas. Contudo, pode ser vista também em pessoas altas. 

Podem haver alterações da unha, com Coiloníquia secundária a deficiência crônica de ferro.

Se houver febre, é preciso descartar complicações infecciosas ou LINFOMA. 

Na pele, pode acontecer o seguinte:

  • Dermatite herpetiforme
  • Aftas na boca
  • Equimoses no corpo
  • Defeitos no esmalte dos dentes

Podem ocorrer alterações de sensibilidade nas extremidades devido à neuropatia periférica.

Como é feito o Diagnóstico da Doença Celíaca?

doença celiaca

O diagnóstico é feito através de 3 exames:

  • endoscopia digestiva alta com biópsias
  • exames de sangue de anticorpos
  • pesquisa genética

Endoscopia: são realizadas biópsias do duodeno para pesquisar presença de atrofia duodenal (característico da doença celíaca)

– Exames de sangue de anticorpos: os melhores exames são anti-endomísio e anti-transglutaminase IgA. O anti-gliadina também pode ser pedida.

Aplicacação clínica dos Testes dos anticorpos: os testes são úteis para fazer diagnóstico, monitorar aderência e resposta à dieta e, porque não, fazer um screening em pessoas assintomáticas.

Importante: testes falsos negativos podem ocorrer em crianças menores que 2 anos (por terem menor produção de IgA, na enteropatia leve-moderada e, obviamente, na deficiência de IgA.  

Testes genéticos: quase todos os pacientes com apresentam genes DQ2 ou DQ8. Assim, pode ser útil em casos específicos, como quando há atrofia duodenal, mas anticorpos negativos.

Biópsia Duodenal: apesar de a sorologia ser muito útil, a biópsia continua sendo o teste padrão para o diagnóstico.

Uma endoscopia com aspecto aspecto normal não descarta a doença, sempre tem que fazer biópsias.

Desafio com Glúten: na maior parte dos casos, esse desafio é supérfluo, pois o diagnóstico é feito pelos meios já citados. Porém, pode ser útil: quando glúten foi retirado empiricamente, com melhora dos sintomas. Mesmo que tenha havido melhora dos sintomas, não dá para confirmar. Afinal, outras condições, como a Síndrome do Intestino Irritável, podem melhorar se tirar pão da dieta.

Como é feito o desafio? 4 fatias de pão por dia, por 6 semanas. Daí, faz biópsia e anticorpos. Tem que começar o pão aos poucos e ir aumentando até, pelo menos, 4 fatias. O número mágico é 10g de glúten por dia, por 6-8 semanas. Se os exames derem negativos, manter a dieta cuidadosa com glúten e repetir teste após 6 meses.

Radiologia: exames radiológicos com constraste raramente são necessários. Em geral, são mais usados para descartar outros diagnósticos ou possíveis complicações.

Tomografia e Ressonância podem mostrar alguns sinais de Doença Celíaca, como atrofia esplênica, ascite, linfadenopatia mesentérica, além de uma rara complicação chamada “linfonodo mesentérico cavitado”.

Diego Cardoso Baima – Doctoralia.com.br

Tratamento da Doença Celíaca

doença celíaca

A retirada do glúten é essencial.

Na imagem acima, você pode ver vários alimentos que NÃO contém glúten.

Como a retirada dele é algo bastante sacrificado para o paciente, o diagnóstico deve ser feito com equilíbrio e tranquilidade.

Os principais alimentos que contém glúten são:

  • Pão (inclusive o integral)
  • Macarrão
  • Torradas e bolachas
  • Bolos
  • Pizzas
  • Barrinhas de cereal
  • Granola
  • Cerveja
  • etc

Hoje em dia, vários restaurantes e fábricas oferecem versões destes produtos “sem glúten”.

Cerveja tem que evitar, pois contém cevada. Mas vinho e whisky estão liberados (com moderação). Os vinhos, espumantes, cidras, xerez, vermute, conhaque, rum, aguardentes como cachaça, tequila e sakê, e alguns licores, estão liberados para o consumo.

A educação do paciente é crucial. Ele pode procurar grupos de apoio, os quais podem ajudar na superação das dificuldades. Na prática, precisa sempre estar incentivando e motivando os pacientes a seguir bem o tratamento. O tratamento é sempre multidisciplinar, sendo importante o acompanhamento com um bom nutricionista. 

Atenção: a resposta de cada pessoa ao glúten é muito variável. Alguns pacientes toleram pequenas quantidades de glúten sem desenvolver sintomas. Outros são extremamente sensíveis.

Suplementos: além da dieta livre de glúten, em pacientes recém-diagnosticados, é preciso atentar para uma adequada suplementação de nutrientes que podem estar deficientes. A deficiência de ferro é a mais comum. Outras comuns são vitamina D, ácido fólico e vitamina B12. Sinais de púrpura e outros podem requerer suplemento de vitamina K.

Doença Celíaca Refratária: 

Também conhecida como doença celíaca inclassificada ou intratável. Acontece quando o paciente mantém sintomas e atrofia duodenal, apesar da dieta sem glúten por 6 meses. Nestes casos, o médico deve também descartar outras causas de atrofia e linfoma intestinal. É incomum em adultos e raro em crianças.

Procure seu gastroenterologista de confiança para realizar o dignóstico e fazer o melhor tratamento. A doença celíaca consequências tem.

Fonte:

https://www.researchgate.net/profile/Mala-Setty/publication/23268541_Celiac_Disease_Risk_Assessment_Diagnosis_and_Monitoring/links/5d2aabc5458515c11c2e2371/Celiac-Disease-Risk-Assessment-Diagnosis-and-Monitoring.pdf

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20301720/#:~:text=Clinical%20characteristics%3A%20Celiac%20disease%20is,(dermatitis%20herpetiformis%2C%20chronic%20fatigue%2C

Leia também:

Síndrome do Intestino Irritável: causas, diagnóstico e tratamento

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Diego Cardoso Baima – Doctoralia.com.br

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